Arte que navega: conheça os 'abridores de letras', artistas que pintam os barcos da Amazônia

Arte que navega: conheça os abridores de letras, artistas que pintam os barcos da Amazônia Um decreto nacional de 1925 determinou que os barcos deveriam ter n...

Arte que navega: conheça os 'abridores de letras', artistas que pintam os barcos da Amazônia
Arte que navega: conheça os 'abridores de letras', artistas que pintam os barcos da Amazônia (Foto: Reprodução)

Arte que navega: conheça os abridores de letras, artistas que pintam os barcos da Amazônia Um decreto nacional de 1925 determinou que os barcos deveriam ter nome próprio, escrito nas laterais das embarcações. Ainda com a grafia antiga, o documento da Capitania dos Portos estabelecia o que cada embarcação devia possuir: "Nome da embarcação collocado em ambos os bordos da prôa e na pôpa, onde tambem será marcado o porto de registro; esses nomes serão escriptos em caracteres de côr clara sobre fundo escuro ou vice-versa e deverão ficar distinctamente visiveis. As menores lettras não deverão ter menos de 10 centimetros de altura". Na região amazônica, o que era uma formalidade acabou inaugurando uma profissão: a dos chamados abridores de letras. Abridor de letra do Pará, Edivaldo da Cruz Brandão, conhecido como Cuca, de Igarapé-Miri, contou que se encantou pelo colorido das letras desde criança. Paula Paiva Paulo/g1 Na época, os letristas dos barcos se inspiraram na tipografia vitoriana, um estilo cheio de curvas e floreios, muito usado em cartazes da era industrial britânica. Com o passar dos anos, os abridores de letras criaram uma identidade própria, que hoje vai muito além dos barcos — está em quadros, camisetas e exposições. Edivaldo da Cruz Brandão, conhecido como Cuca, de Igarapé-Miri, contou que se encantou pelo colorido das letras desde criança. Feita de barro e história: a arte marajoara que representa o Pará na COP 30 "Acho que encanta qualquer um hoje, como está encantando. Todas as pessoas, até criança, quando vê, se encanta com as cores. E aquilo me levou até aquela embarcação, quando eu vi estava fazendo uma pintura". Já Hidaias Dias, de São Sebastião de Boa Vista, no Marajó, disse que desde a escola se destacava na disciplina de Educação Artística, fazendo capas de trabalhos para os colegas. "E eu comecei a dar meus primeiros traços em sala de aula, fazendo capas para trabalhos. Inclusive, eu era o mais requisitado pelos colegas na época, porque sabiam que tinha uma facilidade. Então, a gente já saía na frente com pontos. E com 20 anos de idade, eu me lancei no mercado, por precisão de trabalho, necessidade de ganhar trocado". A designer e professora de tipografia Fernanda Martins estuda há mais de 20 anos os abridores de letras. Ela explica que essa é uma arte viva, sempre em transformação — e um dos motivos é que os barcos funcionam como galerias itinerantes. Material produzido pelos abridores de letras do Pará Paula Paiva Paulo/g1 "O mais interessante é que se esse abridor de letra pintasse a parede da padaria, essa letra estaria lá no seu município, restrita a ele. Mas ele pinta barcos. E, quando ele pinta barcos, o barco vai pelo rio e ele influencia outros abridores de letra. Então a agência do rio, do barco que leva a letra, é tão importante quanto a do artista que pinta a letra. E é por isso que essa letra se desenvolve entre na calha do rio Amazonas e Tocantins, que são onde esses barcos estão circulando. Não há nada igual no Brasil." 'Praga laranja': estátua de Donald Trump é colocada na entrada da Zona Azul da COP30