Fã de Niemeyer, carioca por adoção e nascido em Burkina Faso: conheça Francis Kéré, arquiteto que assina Biblioteca dos Saberes
Biblioteca dos Saberes faz parte do projeto Praça Onze Maravilha O arquiteto Diébédo Francis Kéré, de 60 anos, um dos mais premiados do mundo, é o autor d...
Biblioteca dos Saberes faz parte do projeto Praça Onze Maravilha O arquiteto Diébédo Francis Kéré, de 60 anos, um dos mais premiados do mundo, é o autor do projeto da Biblioteca dos Saberes, parte da iniciativa da Praça Onze Maravilha. Com uma história em que usa referências locais para melhorar a vida de populações ao redor do mundo, o burkinabè [como o povo de Burkina Faso se refere a si] disse que se considera carioca por adoção. “Eu tive a mesma conexão em espírito e em ações com o povo do Rio”, disse o arquiteto no lançamento do projeto, na quinta-feira (20). 📱Baixe o app do g1 para ver notícias do RJ em tempo real e de graça Kéré é o 1º africano a conquistar o Pritzker, prêmio considerado o “Nobel da Arquitetura”. Nascido em Gando, uma vila de Burkina Faso, Kéré contou que o desejo de ser arquiteto surgiu a partir de um problema na infância: ele sofria com o calor na escola e passou a querer construir lugares melhores para as outras crianças. “Eu nasci aqui [apontando para a vila onde nasceu em Burkina Faso]. Não tinha muitas oportunidades e tive chance de ter uma educação melhor. Eu fui para a Alemanha e achei que poderia criar algo para meu povo”, contou Kéré. LEIA MAIS: Da argila ao 'Nobel da Arquitetura': como Francis Keré se tornou o primeiro negro a receber o prêmio Pritzker Aldeia sustentável criada em Burkina Faso por arquiteto Francis Kéré vira referência mundial Quem é Diébédo Francis Kéré, ganhador do Pritzker 2022, considerado o 'Nobel da arquitetura' Veja obras de Diébédo Francis Kéré, ganhador do Pritzker 2022 Francis Kéré nasceu em Burkina Faso e é o autor do projeto da Biblioteca dos Saberes Reprodução/ TV Globo O pai de Kéré era o chefe da vila onde a família vivia. Ele não sabia escrever, mas queria que o filho mais velho aprendesse. “Meu pai recebia cartas do governo e não tinha ninguém para ler. Então, em vez de me deixar trabalhando no campo, ele me mandou para a cidade para aprender a ler e escrever”, contou o arquiteto em entrevista ao Fantástico. Depois, nos anos 1980, ele foi para a Alemanha. Primeiro, fez um curso de carpintaria para, mais tarde, se formar em Arquitetura. Em 2001, Kéré realizou o sonho de infância. Retornou ao povoado e começou a erguer a escola com a ajuda da comunidade. O projeto conta com materiais da região e usa a iluminação natural. Pritzker Da argila ao 'Nobel da Arquitetura': como Francis Keré se tornou o primeiro negro a receber o prêmio Pritzker O investimento em projetos sustentáveis não ficou restrito a Burkina Faso. Ele assinou projetos semelhantes em vários pontos do mundo, que o levaram ao prêmio Pritzker em 2022. A honraria, considerada uma das mais importantes do mundo, é destinada aos arquitetos que demonstram em seus trabalhos a união entre talento, visão e comprometimento com o meio onde vivem. Desde 1979, quando foi criado, 2 arquitetos brasileiros já conquistaram o Pritzker: Oscar Niemeyer, em 1988, e Paulo Mendes da Rocha, em 2006. Francis Kéré é o autor do projeto da Biblioteca dos Saberes. Reprodução/ TV Globo A arquitetura de Niemeyer, inclusive, é uma das referências de Francis Kéré. Ele destacou que é uma honra ter a chance de assinar o projeto de uma biblioteca próxima a uma das mais famosas obras dele. “A arquitetura brasileira é inspiradora e eu admiro Niemeyer. E tenho a chance de criar um projeto próximo ao Sambódromo, criado por ele. Para mim, é uma grande honra”, destacou. Biblioteca Como ficará o projeto da Biblioteca dos Saberes Divulgação/ Prefeitura do Rio Com mais de 40 mil m², o edifício da Biblioteca dos Saberes terá pilotis, cobogós, jardins suspensos e uma torre circular aberta à luz natural. O espaço contará com teatro, anfiteatro, cozinhas, salas de estudo, áreas expositivas e acervos voltados à memória, patrimônio e expressões populares. O espaço será instalado na região onde funciona o Terreirão do Samba, perto do monumento a Zumbi dos Palmares e integrado às iniciativas da região da Pequena África. O anúncio do projeto da biblioteca acontece no ano que o Rio de Janeiro é a Capital Mundial do Livro pela Unesco. A iniciativa tem como objetivo incentivar a leitura. Kéré esteve pela primeira vez no Rio em maio. Ele percorreu lugares que refletem a cultura do Rio e do Brasil: viu o manto tupinambá, no Museu Nacional de Belas Artes, caminhou pelo jardim de Roberto Burle Marx, conheceu o Edifício Capanema — ícone do modernismo brasileiro —, e esteve na Pedra do Sal com Teresa Cristina e a velha guarda da Portela. O arquiteto também se encontrou com a escritora Conceição Evaristo, que discursou no lançamento do projeto, na quadra da Estácio de Sá. “Que venha a biblioteca, onde a movimentação seja humana, abarcando a pluralidade da nossa cidade. Que o morro desça, que a população busque o que lhe pertence como direito cidadão: livros e arte, livros e democracia, livros vivos, livros e humano”, afirmou a escritora. Projeção de como ficará a Biblioteca dos Saberes Divulgação/ Prefeitura do Rio