Trauma na infância eleva em 50% o risco de doenças mentais na vida adulta, aponta pesquisa australiana

Trauma na infância eleva em 50% o risco de doenças mentais e uso de substâncias na vida adulta, aponta pesquisa australiana Adobe Stock Cerca de 42% dos adul...

Trauma na infância eleva em 50% o risco de doenças mentais na vida adulta, aponta pesquisa australiana
Trauma na infância eleva em 50% o risco de doenças mentais na vida adulta, aponta pesquisa australiana (Foto: Reprodução)

Trauma na infância eleva em 50% o risco de doenças mentais e uso de substâncias na vida adulta, aponta pesquisa australiana Adobe Stock Cerca de 42% dos adultos australianos — mais de 8 milhões de pessoas — passaram por algum trauma ainda na infância, segundo um estudo liderado pela Universidade de Sydney e publicado no Australian and New Zealand Journal of Psychiatry. A pesquisa mostra que esses indivíduos têm 50% mais risco de desenvolver transtornos mentais ou problemas relacionados ao uso de substâncias ao longo da vida, além de maior probabilidade de sofrer ansiedade, depressão, transtorno do pânico e até tentar suicídio. Os pesquisadores analisaram dados de 15.893 entrevistados do Estudo Nacional de Saúde Mental e Bem-Estar de 2020 a 2022, conduzido pelo Departamento Australiano de Estatística. Ao todo, foram avaliados 26 tipos de experiências traumáticas, como abuso, negligência, agressão sexual, exposição à violência doméstica, acidentes graves, desastres naturais, doenças, lesões, guerra e morte inesperada de um ente querido. Metade dos registros ocorreu antes dos 10 anos de idade, em alguns casos com crianças de seis anos. “Alerta nacional” Para a Dra. Lucy Grummitt, pesquisadora do Centro Matilda de Pesquisa em Saúde Mental e Uso de Substâncias, os números exigem resposta imediata. “A dimensão e o impacto do trauma infantil na Austrália pedem atenção urgente dos formuladores de políticas, prestadores de serviços e da comunidade”, afirma. O estudo indica ainda que mulheres relatam traumas infantis com maior frequência. O impacto total pode ser ainda maior, já que pessoas em situação de rua, encarceradas ou de comunidades indígenas isoladas não entraram na amostra. Veja os vídeos que estão em alta no g1 Efeitos que duram toda a vida Além da saúde mental, os traumas também aumentam o risco de doenças crônicas na vida adulta, como asma, artrite, câncer e doenças renais. “O trauma não é apenas um problema da infância, mas um problema de saúde para toda a vida”, diz Grummitt. Estimativas apontam que traumas não resolvidos geram um custo anual de 9,1 bilhões de dólares aos contribuintes australianos. Para os pesquisadores, o atendimento sensível ao trauma precisa estar presente em toda a rede de assistência — não só na saúde mental, mas também em hospitais, unidades de atenção primária, escolas, justiça e proteção infantil. Impactos também na escola Segundo os autores, dois em cada cinco jovens terão vivenciado um trauma até o ensino médio. Esses estudantes têm mais chance de apresentar comportamentos que resultam em suspensão ou expulsão, muitas vezes consequência direta do sofrimento. “Professores estão na linha de frente e precisam de ferramentas para reconhecer sinais de trauma”, explica Grummitt. Ela reforça que punições podem agravar o problema ao aumentar sentimentos de vergonha e isolamento: “As crianças muitas vezes reagem mal porque estão sofrendo. Responder com cuidado pode mudar o rumo da vida de uma criança.” O que os especialistas pedem Pesquisadores defendem ações nacionais para: reconhecer o trauma infantil como um fator de risco central para problemas de saúde física e mental; garantir treinamento e recursos às escolas para identificação de sinais de trauma; implementar atendimento informado sobre trauma em todos os sistemas que lidam com crianças e adolescentes. Panorama ampliado O novo levantamento complementa o recente Estudo Australiano sobre Maus-Tratos Infantis, que apresentou pela primeira vez estimativas nacionais de abuso e negligência. Ao incluir outras formas de trauma, o trabalho amplia a compreensão sobre como experiências adversas moldam a saúde física e emocional ao longo da vida.